Herói da várzea e da comunidade
Meu nome é Valdécio de Arruda Pontes, tenho 48 anos, sou funcionário público e já quis ser jogador de futebol

Em diversos pontos, a história de Seu Valdécio muito se assemelha às de outros tantos que tentaram seguir carreira no futebol. Torcedor fanático do Clube Náutico Capibaribe, ele não esconde sua grande paixão. Ou melhor, faz questão de exibí-la a quem visite sua casa, com direito a um pequeno altar dedicado à agremiação na sala. Demonstra seu amor pelo alvirrubro de Rosa e Silva com afinco e bom humor, mas não esquecendo das sérias críticas.
"Desde cedo já gostava de futebol". É uma frase que poderia ilustrar qualquer uma das entrevistas desta série. E é com ela que seu Valdecio começa a falar, recebendo a reportagem de costas para o altar, no qual as homenagens a seu time dividem espaço com uma enorme imagem de uma santa católica.
O ex-lateral-esquerdo da base do Náutico dos anos 80, de jeito bonachão e de exuberante barriga, já não guarda o porte físico dos tempos de promissor jogador, mas é um ótimo contador de causos. O bigode cheio, que, de acordo com a família, é mantido desde que começou a crescer, lhe confere um ar de gentil anfitrião.
“Já gostava de assistir a jogos, apesar de não ter apoio de meus pais... meu maior apoio era um tio meu, já falecido. Ele me incentivava, foi ele que levou pela primeira vez a um estádio de futebol para ver um jogo do Náutico. Toda a família é torcedora do Náutico”.
- E quando foi que o senhor começou a se interessar por jogar futebol?
- Desde sempre. Esse meu tio era de Olinda e foi vizinho do pai de um dos diretores do Náutico, alguém que hoje é uma pessoa muito influente dentro do clube, Américo Pereira. Por intermédio dele, fui fazer um teste. Quando cheguei lá, na época com 15 anos, fiz um teste no meio dos juniores, hoje o chamado sub-20. E fui aprovado para uma categoria inferior, a juvenil, que hoje corresponde ao sub-17. Cheguei a treinar com os profissionais, fiz jogos-treino contra times do interior, mas só.
Depois desse breve resumo de sua vida no futebol, seu Valdécio resolveu contar sobre o princípio de tudo. A infância, a chegada a Santo Aleixo, a relação com a família, vizinhança e estudos.
- Eu cheguei aqui em Santo Aleixo, Jaboatão, com um ano de idade. Na época havia vários campinhos, os famosos campos de várzea, e eu cresci jogando bola por aqui, com o pessoal daqui mesmo. Sempre me relacionei bem, né? Graças a Deus, ainda hoje sou muito benquisto aqui. Muito conhecido aqui na comunidade. Eu digo que isso aqui não troco por lugar nenhum. E, na minha família, tudo foi tranquilo. Graças a Deus, eu tive uma infância tranquila, viu? Meu pai era ferroviário. Na época, ferroviários tinham um bom salário.
Voltando para o futebol, seu Valdécio relembrou que teve um tio que o incentivava no futebol e contou como era a relação com ele.
“Apesar de ele morar distante – a gente em Jaboatão e ele em Olinda –, na medida do possível, era ele que me dava apoio. Foi ele que, através do pai de Américo Pereira, conseguiu me colocar lá no Náutico... ele era uma pessoa que, posso dizer, gostava muito de mim. Foi ele que me ensinou a dirigir... ele me apoiava em tudo o que podia. Foi um segundo pai para mim”.
Já seus pais não o apoiavam muito, mas também não eram de entrar em conflito. “Não, não... na realidade, eu passei um bom tempo treinando no Náutico e meu pai não sabia, meu pai não queria. Meu pai, ele... nunca gostou de futebol. Para ele, tanto fazia, quem ganhasse, quem perdesse. Nunca se interessou e não era aquilo que ele queria pra mim. Eu ia muitas vezes escondido. Como ele trabalhava viajando, ficava mais fácil. Às vezes minha mãe ainda acobertava, dizia que eu ia para casa de amigos, que ia estudar, isso e aquilo outro, e na realidade eu tava no treino”, conta.
- E quando ele descobriu, como foi?
- Ele não foi daquilo de querer proibir, sabe? Mas vivia só dizendo “não vai dar certo, não vai dar certo”. A palavra dele era essa.
- Como o senhor se sentia em relação a esse desprezo paterno pelo esporte?
- A gente fica frustrado, né? Triste. Essa falta de apoio. Muita gente chegou a dizer que eu não tive sucesso devido a não ter apoio. E é difícil, viu? Lá dentro é muito difícil. É muito complicado se você não tiver apoio. Teve um determinado momento em que eu tive um grande apoio lá dentro. Na minha época tinha um jogador profissional, Braz, que era daqui de Jaboatão, e ele me dava força. Por causa dele, eu convivia com os profissionais no meio dos treinamentos, os jogadores viviam indo à minha casa. Mas... quando esse pessoal começou a sair [do clube], eu me vi só e faltou aquele apoio.
Ponto de partida
Seu Valdécio relembra como foi o princípio de tudo – o começo nos campinhos de várzea, os colegas de time de pelada, a juventude com a redonda no pé.
- Antes de ir para o Náutico, como era o contato com a bola?
- Eu jogava em campo de várzea, né? Aqui tinha um time mais organizado, o Estrelinha. Tinha treino, uniforme, tudo o mais. Mas não havia compromisso com entidade ou federação nenhuma. Eu comecei novo. Tinha uns onze anos, mais ou menos. Aos 13 anos, eu já disputava a liga de Jaboatão. Aí entrei no Náutico aos 15 e fiquei até os 18.

- Certo. O senhor sai do Estrelinha e vai para o Náutico. Como foi o começo no alvirrubro?
- Quando eu fiz esse teste, quando passei, fui para o juvenil. Graças a Deus, fui bem aceito por um tempo lá. Eu tinha um bom relacionamento com o pessoal. No pessoal do juvenil tinha uns meninos lá – força a memória -, o Jadiel, o... aliás, o Misael, o Lúcio Surubim [atual comentarista esportivo da CBN Recife e ex-jogador e dirigente do Náutico], tinha o Geraldo. A gente era, não o Lúcio, mas eu, o Geraldo e o Misael éramos os líderes da equipe. Qualquer necessidade da equipe, a gente chegava ao professor e batia de frente mesmo. “Ô, professor, não é assim não, peraí”, e tal.
- Então Lúcio ainda não era um líder?
- Não, não era. Na época, Lúcio era muito reservado. Ficava muito na dele - lembra.
Estilo
“Eu comecei como meia-esquerda, bem ofensivo, e passei para a lateral. Mas minha principal característica era o chute. Modéstia de lado, eu tinha algo que, se fosse hoje, seria muito valorizado: batia muito bem na bola. Facilitava muito. Hoje em dia, eu vejo laterais que tentam um cruzameno que mal saem um palmo do chão. E eu tinha aquela facilidade de visualizar um jogador dentro da área e jogar certinho para ele”, vangloria-se. “Até hoje muita gente fala. ‘Oi, tudo bom? Acho que tu não lembra de mim, mas eu fui muito a campo te ver jogar’. Recebi elogios até de quem hoje é profissional”.
Seu Valdécio pontua que não era um jogador muito alto e que isso também foi um dos motivos para o seu insucesso no futebol. “Eu não tinha muita estatura. Um defeito em razão disso era o meu cabeceio, no qual sempre fui fraco. O treinador pegava muito no meu pé. Na época, no Náutico, existia uma tal de caixa de areia que era um tormento e ele me colocava lá para treinar”, relembra. “Treinava impulsão. Eu nunca fui bom nisso, não. Então recuei para a lateral”, explica.
Mestres e problemas
Seu Valdécio relembra o professor Assis, treinador da época. “Tinha seu Assis e, depois dele, passamos a ser comandados por João Lobo. Esse criou ‘ene’ problemas. Com seu Assis, apesar de bater de frente quando preciso, a relação era amistosa, era tranquila. O professor era gente fina, era aquele paizão. Chegava e conversava muito com a gente. Não só sobre futebol, mas sobre a realidade, tipo ‘não é só futebol não, tem que estudar, porque muitas vezes o futebol não dá certo. Tem que partir para outro lado também’. Era um paizão, um paizão mesmo”, enfatiza.
Por outro lado, com João Lobo a relação não parecia muito agradável...
“João Lobo era complicado. Ele era muito daquele tal de apadrinhamento. Levava [para o clube] os [jogadores] dele. Feito a gente dizia, ‘o cara não sabe nem andar e já quer chegar jogando bola’. Mas eram os afilhados dele, né? Era difícil. Foi por isso que saí. Via pessoas que na verdade jogavam até muito mais bola que eu sem oportunidade por causa disso”, conta. “Tinha César, que era muito amigo meu, era muito bom de bola, um ponta-esquerda muito bom, mas acabou desistindo e virando modelo”.

Naquela época, seu Valdécio passou por outro problema: a questão física.
- O senhor enfrentou algum tipo de lesão durante o tempo que jogou?
- Sim. Tive um estiramento na coxa direita que me afastou por dois meses. Tive também um problema que só o falecido Osmar Prado, o médico do Náutico na época, descobriu: era um dente furado que eu tinha e aquilo me dava uma dor no joelho que eu não conseguia correr. Graças a doutor Osmar, tirei o dente, fiquei bom e voltei a jogar normalmente. Infelizmente, parei de jogar um pouco tempo depois.
Pouca cobertura da mídia
Seu Valdécio recorda que havia pouco acompanhamento jornalístico em relação à base na época. Algo que ainda se mantém, embora tenha diminuído. “Era muito pouco, mas teve uma vez em que a gente fez uma preliminar de Náutico x Coritiba pelo Campeonato Brasileiro no Arruda. A gente [da base] fez uma partida pelo Pernambucano contra o Íbis. Devido a minha irmã trabalhar na rádio Tamandaré, ela comentou na emissora que eu ia jogar. Então teve uma certa cobertura com aquele negócio de ‘ah, o irmão de nossa funcionária vai jogar’. Coincidência ou não, fui considerado o melhor jogador em campo nesse dia”, relembra.
Espelhos
- Em quem o senhor se inspirava para jogar?
- Na minha época, e até hoje é, meu ídolo era Zico. Tinha o time do Flamengo que, para mim, era muito dinâmico. Tinha Júnior, que era o lateral-esquerdo... e, no Náutico, tinha o próprio Albéris, lateral-esquerdo na época, gostava muito do futebol dele. Era aquele lateral que não era tão forte na marcação, mas no apoio e, principalmente, no cruzamentos... o jeito de bater muito bem na bola. Era meu amigo, mas perdi o contato com o pessoal. Na época não tinha a facilidade como hoje em dia tem, de celular, essas coisas. Depois que Albéris saiu para a Portuguesa-SP, perdi o contato.
Campanhas, rivalidades, temperamento, dia a dia complicado
Pergunto a seu Valdécio se, durante os tempos de jogador, ele ganhou títulos.
- Não - sorri, meio embaraçado. - Na verdade perdi. A gente perdeu para o Sport na final do Pernambucano de 1985. Nossa, eu nunca gostei do Sport, sempre odiei, e a partir desse dia, então... é brincadeira, pô. Ainda mais que a gente foi lesado lá. O cara fez uma falta fora da área, o juiz deu pênalti. Oxe, nesse dia, no tumulto, eu perdi a cabeça. Numa carreira que eu vinha, dei um murro no juiz...
- Danou-se!
- Saí de campo, oxe... inconsolável. A gente perdeu por 2x0. Tava 1x0 pra eles e a gente em cima, em cima o tempo todinho. Aí teve essa falta que gerou toda a confusão e o pênalti. Eu fiquei louco. Aquele time do Sport tinha Luís Carlos, atacante, que fez sucesso depois.
- E durante o tempo de base, Seu Valdécio, vocês recebiam algum incentivo ou benefício do clube?
- Só quando eles disponibilizavam, porque atrasava mais do que tudo, o vale transporte. Só tinha isso. Era contado aquilo pra gente ir treinar por um mês, mas muitas vezes saía do próprio bolso da gente mesmo. Aí minha mãe ajudava.
- Havia perspectiva por parte do clube para o senhor subir para o profissional?
- Tinha. O problema mesmo era João Lobo. Não gostava muito de mim. Teve um dia de treinamento em que estavam jogando os juvenis contra o júnior. E ele, em um determinado momento, disse que era pro time dele “pra chegar junto” [jogar duro, batendo] no da gente. O time dele, por causa do apadrinhamento, era fraco. E a gente, com um time inferior [na idade], tava ganhando deles. Numa hora, um dos apadrinhados dele veio numa dividida comigo. Eu já sabia o que ele tinha dito pro time, então entrei por cima. O cara veio pra me machucar, mas como entrei por cima, eu que machuquei o cara. Ele ficou muito fulo da vida comigo. Queria porque queria que me tirassem do time. Aí o professor da gente fez “não, negativo. Ele não vai sair não, que negócio é esse?”, me defendendo. Ele não aceitava que o time dele perdesse prum time inferior. Aí, por causa disso, na minha passagem pro júnior, ele me escanteou. Eu chegava lá, treinava o físico e tal, quando era na hora do coletivo, me colocava pra jogar faltando cinco, dez minutos para acabar, já para me escantear mesmo. Eu não tinha chances de provar que era melhor que o titular, só quem jogava era ele. Foi então que desisti. Depois chegaram pra mim e disseram ‘rapaz, tu fosse muito burro, se tivesse falado isso para Sebastião Orlando [outro diretor à época], saía o treinador, não tu’. Mas, né, não tinha apoio, ninguém me orientava em nada. Depois que saí, tive propostas para ir pro Central, já com 19 anos, quando tava trabalhando. Houve proposta para ir pro Cruzeiro de Alagoas, mas não quis mais jogar.
- Então desistiu de vez?
- Sim, porque já tava trabalhando e era uma coisa certa, né? Já estava na Prefeitura e pensei que era melhor não trocar uma coisa certa por uma duvidosa. A idade já tinha estourado. Em relação aos estudos, eu faltava demais para ir jogar – sorri –, cheguei a reprovar uma série. Os treinos eram cansativos e, quando ia pra aula, dormia mais que estudava. Só fui concluir o Ensino Médio aos 22 anos. Eu tinha, no começo, o desejo de seguir a carreira de professor de Educação Física. Sempre gostei muito de atividade física. Mas aí, depois, relaxei, tive que focar no trabalho.
Atualmente: paixão e críticas em vermelho e branco
Durante toda a entrevista, não pude evitar observar com mais detalhes o altar dedicado ao Náutico na sala de seu Valdécio. Tem caneca, porta-retrato, boneca, garrafa, calendário, barquinho e até a miniatura de uma Kombi alvirrubra. Tudo isso dividindo espaço com uma imagem imensa de Nossa Senhora de Fátima.

- Depois que parou de jogar e formou família, passou a acompanhar mais o Náutico? Como é sua relação com o clube hoje em dia?
- Bem, agora não sou mais sócio Náutico, já fui. Mas sempre acompanho. Teve um período em que o Náutico estava na Terceira Divisão e, quando todo mundo abandonou, eu estava lá. Às vezes eu chego para minha filha e conto que teve um jogo que tinha 20 torcedores no campo, 19 e eu. Eu estava lá. Quando o Náutico estava na segunda divisão [em 2005], fui a todos os jogos. Quando perdemos pro Grêmio, na Batalha dos Aflitos, eu tava lá. Saí de lá chorando, todo mundo queimando bandeira, queimando camisa, “nunca mais venho a campo”. Então eu disse “dia 8 de janeiro começa o Campeonato Pernambucano, Náutico x Central, e eu estarei aqui”. E eu tava lá. No outro ano, também fui a todos os jogos do Náutico em Pernambuco. Subimos naquele jogo de 2x0 contra o Ituano.
- E atualmente, continua indo religiosamente a campo?
- Infelizmente – enfatiza, separando as sílabas – não temos mais os Aflitos. Pra gente aqui sempre foi mais perto de carro. Mas eu sempre, quando posso, vou à Arena Pernambuco. Última vez que fui foi no aniversário dela – aponta para a filha do meio – e do Náutico [7 de abril]. Fomos eliminados da Copa do Nordeste.
- Como o senhor ver a atual situação do clube, sendo o torcedor fanático que é?
- Com esse atual presidente, tenho esperança que melhore. Até penso em voltar a me associar como maneira de ajudar. Mas é difícil, né? Esse tempo todo sem títulos, fico triste como torcedor, claro que a gente quer sempre ver o time ganhando, mas tenho esperança agora com essa nova gestão. Principalmente com esse treinador [Alexandre Gallo], que gosta de trabalhar com a base. Eu defendo muito a base. Não porque eu fui da base e não consegui chegar ao profissional, mas é porque eu vejo que pode ser o futuro do Náutico. Eu não vejo de outra maneira. Como é que um time que consegue ser bi, tricampeão da categoria sub 20 e não se revela nenhum jogador para o profissional? Enquanto isso, Sport e Santa Cruz não são campeões e sempre botam dois ou três jogadores no mercado.
- Eu sei que Kuki é ídolo recente do Náutico. O senhor considera seu maior ídolo do clube? Espera que apareça um novo Kuki em breve? Qual é a perspectiva para esse futuro próximo do clube?
- Ele é um dos ídolos. Eu vi Baiano jogar, vi Mirandinha, que faziam muitos gols, Bizu, e depois veio Kuki. Ele tinha um lado doido. Teve jogo de Kuki em que eu ria muito com ele. Era de pegar a bola e driblar até o goleiro. Mas, da minha geração, o melhor que vi jogar foi Baiano mesmo. Esperança de um novo ídolo a gente sempre tem. Feito aquela geração de 82 da Seleção Brasileira. Tinha aquela música que dizia “que nasça um Garrincha de novo, quem sabe tem mais de um quebrando a casca do ovo”. Quem sabe aí, nessa geração do Náutico, se tiver algum com uma oportunidade para ser um futuro Baiano, um futuro Kuki. Para este ano, tenho muita esperança. Vi uma entrevista de Fabiano Eller na qual ele diz que o time só não subiu [em 2015] por falta de salários. A diretoria não pagava. Com esta diretoria, que tá priorizando pagamento dos jogadores, tenho muita esperança que no fim do ano estejamos comemorando o acesso à Primeira Divisão.
- Ainda em relação a expectativas, o futebol passa por uma crise desde um bom tempo, que teve seu ápice naquele 7x1 da Copa. Como o senhor enxerga essa situação?
- O futebol brasileiro eu enxergo assim: enquanto tiver dentro da CBF esse conceito de que empresário é diretor técnico, eu não vejo perspectiva não. Porque, se sou empresário, vou querer ganhar dinheiro em cima do meu produto, e é isso que tá acontecendo na Seleção. O Gilmar Rinaldi é empresário de jogador, então ele quer colocar o jogador dele na vitrine. Então não convocados os melhores, são chamados os jogadores de Gilmar Rinaldi. Eu não vejo um Kaká com 33 anos de idade, sem perspectiva de ir à Copa do Mundo... qual a necessidade de convocar Kaká? Tem o centroavante do Santos, muito bom jogador, mas 35 anos de idade, sem perspectiva de ir à Copa. Pra que ser convocado? Se tem aquele Gabriel do Santos e o Gabriel Jesus do Palmeiras? São esses os jogadores, o futuro do Brasil. Agora despeja tudo em cima de Neymar. Ele tem apenas 23 anos de idade, é muita responsabilidade para assumir.
- Considera que ele é o nosso melhor jogador em atividade?
- É sim. Gosto muito do futebol dele, acho nosso melhor jogador. Mas acho que na Seleção pegam muito no pé dele. Se o time joga bem, é por causa dele. Se jogou mal, também. Tem que dividir a responsabilidade. Não é por aí.
- E o treinador Dunga?
- Olhe, eu fui muito fã de Dunga como jogador. Pra mim, em sua geração, era o melhor jogador. Agora, como treinador, não. Ele se deixa ser comandado pelas pessoas, como Gilmar Rinaldi, que é quem convoca a Seleção. É dessa forma que vejo. Aquilo é uma máfia.
- Que nome o senhor indicaria?
- Se não fosse nesse esquema, Zico. Onde ele passou, mostrou que tem capacidade. Foi campeoníssimo na Turquia.
- Por fim, seu Valdécio, como é sua visão em relação à mídia esportiva?

- Tenho mágoa. Recentemente, o Globo Esporte, em 7 de abril, fez “hoje é aniversário do Náutico, parabéns”. E só. Lembro que, ano passado, no aniversário do Santa Cruz, passou uma semana de homenagens, de segunda a sexta-feira. Aquela repercussão toda. Por que no caso do Náutico foi só um parabéns?
- Acha que é por causa da má fase? Uma questão de popularidade?
- Com a palavra, o jornalismo da Rede Globo – laconiza, com um sorriso conclusivo.
Tiro as fotos finais com seu Valdécio. Sua esposa, dona Mirtes, interrompe a faxina da casa e me oferece um suco de tangerina geladíssimo em um copo grande. Na televisão, passa o VT de um jogo do Barcelona pelo Campeonato Espanhol. Peço desculpas por atrapalhar seu hobby. “Não, rapaz, não se preocupe, não tirei os olhos da televisão durante a entrevista”, confidencia, emoff. Claro que percebi. Eu não faria diferente.