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Polivalente e firme como uma rocha

Meu nome é Pedro Paulo Silva Catonho, tenho 25 anos, hoje eu sou assessor de imprensa, mas o meu sonho sempre foi, e confesso que ainda é, ser jogador de futebol

Pedro é assessor de imprensa, nasceu no Rio de Janeiro e hoje mora em Olinda. As conquistas, os percalços, as histórias que ele tem a contar compõem um enredo de superação que, se não é exatamente inédito, é uma amostra da dura realidade do futebol de base e do interior, muito distante do glamour e da ostentação dos grandes centros do esporte. Já assisti ao cara jogando. É, de fato, um craque, daquele tipo que você vê e percebe que poderia ter ido bem longe. Ele deu uma guinada em seu caminho profissional e hoje quer galgar patamares mais elevados no meio comunicacional, sem abandonar o lado esportivo. A seguir, você confere a bela história de vida do rapaz, contada por ele próprio, sentado em um banco do parque Treze de Maio, região central do Recife, numa manhã de sábado.

 

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Peregrino desde muito cedo

Eu nasci em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Meu pai é militar. Já me mudei muito, morei no interior do Pará, no interior de São Paulo, Manaus, Mato Grosso do Sul, vários estados. O futebol entrou na minha vida a partir do interior de São Paulo, quando a gente morou em Lorena. Eu ficava jogando muito na rua, ficava jogando bola o dia inteiro. Tinha uns amigos fumando, bebendo, aí meu pai um dia viu isso e falou "pô, o Pedro Paulo tá indo pro mau caminho, vou montar uma escolinha de futebol pra ele, pra ele brincar com essa rapaziada toda que tá aí na rua". Aí meu pai formou uma escolinha lá em Lorena, com o nosso sobrenome: Catonho Futebol Clube.

 

A equipe foi um sucesso, foi a sensação lá do interior. Conquistou campeonatos contra os times grandes de São Paulo, ganhou do São Paulo, do Santos, de vários times da capital, e foi crescendo, crescendo. Quando surgiu a oportunidade de virar um clube, de fechar uma parceria maior, meu pai foi transferido para Campo Grande (MS). E foi lá que o futebol ficou mais sério pra mim. Eu entrei em uma escolinha de bairro. Essa escolinha foi campeã estadual, o que foi uma surpresa. A gente ganhou dos principais clubes de lá, o Comercial, Operário, o Cene. O presidente do Comercial quis me levar para lá. Aí eu fui pro Comercial, que hoje joga a Série A do Campeonato Sul-mato-grossense. Tem até o Aloísio Chulapa, consagrado atacante, que atualmente joga lá. Cheguei ao Comercial com 14 anos, a partir daí eu comecei a levar o futebol como sonho meu, como profissão.

Em 2005, a gente disputou um campeonato em Brasília, também com várias equipes grandes. Ficamos em segundo lugar, tiramos São Paulo, Atlético Mineiro, times de fora que são convidados, equipes do Paraguai. Aí eu passei a levar a sério mesmo, treinava todo dia. Claro, sempre estudando também. Até o estudo eu acho que “atrapalhou” um pouco também, porque lá em casa a pressão para eu terminar o terceiro ano era muito grande. Meu pai não era muito a favor de futebol, até por ele também ter tentado. Ele jogou pelo América do Rio, na categoria de base do Botafogo, mas não conseguiu. A pressão do meu avô para meu pai ser militar foi maior do que o sonho dele. Ele acabou desistindo, e pelo que passou também tinha medo que eu arriscasse, que eu tivesse uma decepção como ele teve.

 

No Comercial a gente também conseguiu título estadual, título regional. Então meu pai foi transferido de novo pelo Exército, desta vez lá para Manaus, onde comecei do zero de novo. Consegui jogar no São Raimundo, que é o principal time de lá, tricampeão do Norte, onde fiquei por três anos. Depois, eu fui para o ASA - um projeto novo que criaram lá, o ASA da Amazônia. Jogamos a Série B do Amazonense, subimos para a Série A.

 

Foi aí que comecei a ficar decepcionado com o futebol, porque o ASA contratou o Valdir Papel, que jogou aqui no Sport, jogou no Vasco. E nos treinamentos, eu treinava no time reserva, enquanto ele era titular. Ele era a estrela do time. Eu, zagueiro... Valdir não fazia nada pra cima de mim. Eu sempre marcava firme, ele não se criava, e mesmo assim eu nunca subia pro time titular. Não compreendia. "Pô, tô marcando a estrela do time, no treinamento ele não faz nada pra cima de mim e continuo no banco", eu pensava. Nessa época eu passei no vestibular para Jornalismo na UFAM. Os treinos chocavam com o horário da aula, ambos pela manhã. Aí ficou aquela dúvida: ou estudo ou jogo. Eu tentava negociar com o treinador, ele também não ia muito com a minha cara. Um dia eu faltava à aula, outro dia faltava ao treino. Ficou uma loucura. Em 2009, finalmente, eu decidi, parei com o futebol e fui focar nos estudos. Hoje estou formado em Jornalismo, mas o meu grande sonho mesmo era o futebol.

 

Coringa. Polivalente. Versátil. Pau para toda obra.

Eu fui ficando mais velho e fui recuando. Eu comecei como ponta-direita, camisa 7, aberto mesmo pelos lados. Isso jogando no interior de São Paulo, em Lorena. Aí lá tinha a seleção do Vale do Paraíba, que é uma região que pega Lorena, Guaratinguetá, Piquete. Aí eu fui convocado para a seleção e o treinador me colocou como lateral, não sei por quê. Voltei para o clube como meia-direita. Fui ficando mais lento, mais pesado, mais alto e fui recuando, virei segundo volante, depois primeiro volante e, no final, acabei ficando na zaga, que foi a posição em que mais joguei. Eu tenho 1,80m, na época eu tinha uns 78kg, mas eu era um zagueiro rápido.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Minha deficiência era a bola aérea, na qual nunca fui bom, mas compensava na marcação, na velocidade. Cobria o volante, cobria o lateral, esse era o meu forte. Chegava como um elemento surpresa também porque eu tinha um bom chute, fazia muitos gols de fora da área. Apesar da minha dificuldade com a bola aérea, ofensivamente eu era muito bom, fazia muitos gols de cabeça. 

 

Na base a tendência é essa. Se é alto, é zagueiro, é volante, defensor. E foi assim que aconteceu. Eu jogava na frente, aí os treinadores sempre diziam que eu tinha que jogar na zaga, que eu ia ganhar todas as bolas no alto. Fui recuando até terminar na defesa. O meu fraco, porém, sempre foi o fôlego. Não aguentava. E na zaga a gente corre menos. Eu jogava na ponta direita, por exemplo, tinha que correr o tempo todo. Como volante, também. E na zaga é mais tranquilo, só cobrir o lateral e cobrir o volante. Aí eu consegui jogar.

 

Ídolos e inspirações

Bom, como eu disse no início, eu sou carioca, sou flamenguista. Um ídolo que eu sempre tive foi o Juan, o zagueiro Juan que jogou pela seleção e hoje está de volta no Flamengo. O estilo dele é muito parecido com o meu, sou calmo, tenho uma boa técnica. Eu não sou de ficar gritando, assim como ele. Ele é um líder nato sem precisar berrar, essas coisas. E acho a história de vida dele é muito parecida com a minha. A gente veio do interior do Rio, de uma cidade pequena. O Juan jogou na Itália, já jogou na Alemanha, já ganhou mundo graças ao futebol. E quando eu era pequeno, eu jogava, tirava a bola e ficava "Juan, Juan", essas coisas de criança. Foi assim. Ele era meu ídolo. Eu fiquei muito feliz de agora ele ter voltado ao Flamengo, mesmo com 37 anos ele está jogando bem. É um cara em que eu me inspirei bastante.

 

Minha grande inspiração no Jornalismo, ele não é muito conhecido aqui em Pernambuco, mas eu gosto muito do Rica Perrone. É um blogueiro paulista. Já trabalhou para a Globo, para vários vários portais, mas hoje ele vive só com blog dele. Ele fala o que pensa, faz análises muito boas. Tem liberdade pra usar a linguagem que quiser. Se conseguir chegar nesse nível um dia, viver do meu blog, escrever do meu jeito e só do que eu gosto, será incrível. 

 

Infância: aprendendo a sobreviver

Bom, no Rio de Janeiro a gente morava na Pavuna, que é um bairro bem pequeno de lá, na Zona Norte. Era uma infância complicada, que meu pai ainda era sargento, minha mãe sempre foi dona de casa. A gente morava perto de uma favela que hoje é a pior do Rio de Janeiro, a do Chapadão.

 

O que me marcava, que era complicado, era sempre que eu chegava do colégio ao som de tiro, minha mãe berrando "Pedro, abaixa. Pedro, deita, pelo amor de Deus". Isso era o que mais me chocava. Todos os dias não, mas era muito comum quando a gente chegava do colégio. Minha mãe buscava a gente na escola e quando chegávamos era pra deitar no chão, sujar a roupa na terra batida. Na hora de largar e voltar para casa, sempre tinha barulho de tiro para atormentar.

 

A minha infância... eu tive tudo pra ir pro mau caminho. Perdi muitos amigos por conta da violência, pro álcool também. Mas, graças a Deus, eu tive uma base muito boa. Meus pais foram sensacionais, me tiraram desse caminho. Assim que a gente foi para São Paulo, para Lorena, mesma coisa. A gente morava em um bairro humilde, os amigos iam fumar, cheirar, e meu pai quando viu isso ficou muito chocado. Foi aí que ele montou a escolinha.

 

Eu saí do Rio com oito anos, eu vivia na rua machucando o tampão do dedo jogando bola. E os meus amigos, sempre mais velhos, com 10, 12, 14 anos, tudo no mau caminho, já mexendo com arma. Eu via muita arma de perto, mas graças a Deus nunca experimentei as drogas, nunca fui pra esse caminho, graças a minha família.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alicerce: família como suporte diário

A questão de incentivo... eu sempre fui apaixonado por futebol, desde que me entendo por gente assisto, eu leio os cadernos de esporte de jornais, agora os sites. E sempre foi meu sonho desde criança mesmo, por influência do meu avô, ele que sempre foi muito apaixonado por futebol, muito apaixonado pelo Flamengo. Fui crescendo sempre com esse sonho de ser jogador.

 

Meu pai, no início, apoiava muito, mas quando ele viu que o negócio foi ficando sério, que eu queria mesmo virar jogador, foi ficando preocupado. Até porque ele tentou e não conseguiu. Enquanto era só escolinha de brincadeira ele sempre me apoiava, me levava para os treinos, dava o apoio, comprava chuteira, caneleira. Mas, quando eu tive oportunidade de crescer, ficou com medo. Eu recebi convite pra jogar no Paraná, isso quando eu morava no Mato Grosso do Sul, tinha 15 anos. Eu era segundo ano do Ensino Médio. Ele disse que eu precisava terminar o terceiro ano, para não arriscar, porque era perigoso.

 

Mudanças de rumo

Hoje eu fico meio triste, sabe? Porque quando eu recebi uma proposta do Paraná, teve um jogador que foi também. Ele se chama Cleyton. No ano passado, estava jogando o Campeonato Português pela Série A. Hoje ele está em Alagoas, jogando campeonato pelo CSA, mas ele conseguiu, deu certo. Teve a mesma oportunidade que eu e agarrou. Foi para Portugal, foi pra Rússia. Está aqui no Nordeste agora. E eu só assistindo. Com “inveja”. Confesso que fico com certa inveja, porque a mesma porta que abriu pra ele também abriu pra mim.

 

Os professores, o temperamento e as amizades através da bola

Eu tive treinadores com quem me dei super bem, e com outros tive a relação complicada. O último mesmo eu não fiquei bem com ele. Tenho um episódio de quando eu fui jogar pelo São Raimundo no interior de Manaus. Tive uma discussão com ele no vestiário no intervalo do jogo, nosso time ganhando. Apesar de ser calmo, não aceitava muitas críticas. Esse era meu ponto fraco. Ele foi me criticar gritando, respondi pra ele, eu era titular do time, capitão. No intervalo ele brigou comigo, discutiu, e ainda voltei pro segundo tempo - confesso que fiquei surpreso. Voltei pro jogo, ganhamos a partida e depois retornamos a Manaus de barco. No primeiro treino, ele me tirou até do time reserva. De capitão, eu passei a não ficar nem no banco. Aí eu fiquei chateado, não fui no outro treino e saí do São Raimundo assim. Esse treinador é bem complicado, não tive uma relação muito boa com ele.

 

 

 

 

 

Com os treinadores no Mato Grosso do Sul, nunca tive nenhum atrito, me dei bem com todos, fui capitão com todos. Com os colegas, sempre fui muito amigo, sempre fiz amizades. Todo mundo gosta de mim, tenho contato até hoje. Claro, é difícil ser amigo de todo mundo, eu tinha atrito com o pessoal do ataque. Porque no futebol, quando o time perde, é culpa do goleiro ou do zagueiro. Quando o time ganha, o atacante que leva a glória. Normal do futebol. Acontece em todos os times. Aí quando a gente perdia, estava de cabeça quente, e aí vinha o atacante para dizer que a culpa era da zaga. Eu respondia que a culpa era do ataque e do meio que perdiam gol. Mas, coisa simples. No geral, o saldo é positivo.

 

Chance de ouro desperdiçada e definições na vida

Aos 16, eu tive oportunidade de jogar a Copa São Paulo, em 2007. Só que naquele ano saiu outra transferência do meu pai, a gente foi pra Manaus e eu perdi o campeonato, que seria maior oportunidade da minha vida. Inclusive, o Comercial, nessa competição, jogou contra o São Paulo. Chegamos a Manaus e nesse ano, um vizinho a quem contei a minha história me levou para o São Raimundo. Ele era o preparador dos goleiros. No clube, eu fui vice-campeão amazonense infantil, campeão amazonense juvenil e subi para o profissional, quando tive essa história com o técnico com o qual não me dei bem.

 

Quando ele foi demitido, eu voltei para o clube para jogar profissionalmente. Joguei por mais um ano. Depois do do São Raimundo fui para o ASA, que era o projeto novo. Ganhamos a série B do Amazonense. Na Série A, tive esse problema com o Valdir Papel, treinava como um leão e nunca subia para o time titular, sempre continuava no banco. Passei no vestibular para Jornalismo, e os treinos coincidiam com horário das aulas, então resolvi seguir no curso.

 

Posso colocar que em 2009 foi o último ano que eu tentei. Desisti mesmo, minha última competição foi o Amazonense de 2009.

 

E, bem, foi uma decisão muito complicada. Quando escolhi fazer vestibular para Jornalismo, eu ainda não estava muito certo disso. O meu sonho ainda era jogar futebol, tanto que ainda treinei por um tempo enquanto cursava a faculdade. Eu queria algo na área esportiva. Fiquei numa dúvida muito grande entre Jornalismo e Educação Física, mas lá em casa o pessoal não gostou da ideia de Educação Física por questão de salário. Mas jornalista também ganha pouco, está na mesma situação.

 

 

Mas a minha vontade sempre foi jogar, trabalhar com esporte. Desde pequeno, eu sempre lia caderno de esportes e nos sites. E foi nisso que pensei. "Acho que eu vou conseguir fazer bem a área de Jornalismo". Já sou formado há dois anos e nunca consegui trabalhar com o que eu sempre desejei, a área esportiva, mas tive oportunidade, logo no meu início como estagiário, de realizar um sonho de infância, que foi conhecer o Romário, meu ídolo. O maior atacante que eu já vi jogar. Fui visitar o Romário como estagiário em 2010, quando jogava em Manaus ainda, pelo Diário do Amazonas. Esse início foi promissor. Aí sim eu fiquei satisfeito com o curso. Entrevistei o Romário, entrevistei a Hortência, grandes nomes do esporte nacional. Hoje estou feliz, estou satisfeito, apesar do salário. Foi uma boa escolha. Não deu para o futebol, mas estou feliz da minha área agora.

 

Cobertura da imprensa: as dificuldades de ser visto na base

O melhor lugar de todos que eu morei, que tinha um bom espaço para o futebol de base, foi em Manaus. Isso porque em Manaus os jornais só falam de futebol carioca, mas tinha um espacinho para a base. Meu nome saiu várias vezes no jornal, no futebol sub-17 por exemplo. O pessoal ia cobrir com fotos, um jornalista in loco. Eu achava isso muito incrível.

 

Nos outros lugares, no Rio de Janeiro, no interior de São Paulo, era muito difícil. Não tinha destaque. Eu tenho os recortes de jornal guardados até hoje com meu nome. De todos os lugares em que eu morei, Manaus foi o que deu mais destaque. Aqui em Pernambuco, o destaque é dado quando a equipe ganha.

 

Estante de troféus

Os principais títulos cujas medalhas eu tenho guardadas até hoje com muito carinho são o Amazonense e o Sul-mato-grossense sub-15. Antes de ir para Manaus, disputei um campeonato em Brasília, fomos campeões. Ganhamos de grandes times, tiramos o Atlético Mineiro e o São Paulo, ganhamos do Brasiliense, do Fluminense. Em Manaus, eu fui vice-campeão infantil, campeão juvenil em 2007. No profissional eu não consegui títulos, mas consegui o acesso para Série A.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Minha vida é andar por este país

Comecei o curso, lá em Manaus, em 2008. Era muito bom, gostava da graduação lá. Aí saiu a transferência do meu pai aqui para Recife, e foi complicado. As grades são diferentes. Saí do Amazonas no quinto período e aqui eu tive que pagar cadeira do primeiro período na UFPE. Foi bem difícil, porque tem que fazer novas amizades, cultura completamente diferente. O pessoal de Manaus é de um jeito, pessoal do Recife de outro. Até fazer amizades, eu não tinha minha turma aqui em Pernambuco. Eu pagava cadeira com o primeiro período, outra com o terceiro, outra com o sétimo. Foi muito complicado nessa parte, mas eu acho que, de uma maneira geral, deixei muitos amigos lá. Hoje, no meu trabalho, eu preciso me comunicar muito com Manaus. O pessoal de lá está muito bem, trabalhando na Globo. Fico muito satisfeito.

 

Quando vim para o Recife, assim que saiu a transferência do meu pai pra cá, estava saindo muita notícia sobre o Recife ser a cidade mais violenta do Brasil, que estava pior que o Rio de Janeiro. Mas, graças a Deus, quando eu cheguei aqui não foi nada disso. Nunca fui assaltado. Comecei a morar em Boa Viagem com meus pais, na Vila Militar. Já era uma vida muito melhor do que a gente tinha no Rio de Janeiro. Já tinha dois irmãos, meu pai já era capitão. Então saiu a transferência do meu pai de novo. Ele foi-se embora para a Bahia.

 

Eu não tive condições de seguir em Boa Viagem e hoje moro em Olinda com a minha esposa, há dois anos. A adaptação aqui foi muito boa, eu não vi nada de violência. Claro, vejo, mas menos do que eu imaginava, menos do que vi no Rio de Janeiro. Aqui, eu nunca ouvi tiro. O pessoal daqui é melhor que o pessoal do Amazonas. O pessoal de lá é meio complicado, não tem o costume de dar bom dia, boa tarde. Aqui em Pernambuco fui bem acolhido. A questão do clima também. Lá é muito quente, aqui também, mas nem se compara. Eu gosto muito do Recife, pretendo ficar aqui pra sempre. Meus filhos vão ser pernambucanos e torcer pelo Flamengo. Estou feliz aqui. Rio de Janeiro só pra visitar. Infelizmente, a violência lá está demais. É aqui mesmo que eu vou ficar.

 

Vida pessoal do craque e jornalista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conheci a minha esposa, Nathália, no Clube Internacional, em um show de funk. Apesar de muito tempo longe do Rio de Janeiro, sou muito carioca. Gosto de funk e gosto de samba. E nesse dia do funk, também ia ter um show de brega, e minha mulher gosta de brega. A gente se conheceu lá em novembro de 2012 e tá junto até hoje. No início, nós morávamos muito longe um do outro, mas com a transferência do meu pai para a Bahia, resolvemos juntar os trapos e morar na mesma casa. Ela é uma figura, na Copa da faculdade em que eu jogo todo mundo já a conhece porque ela fica torcendo e gritando. É uma pessoa fantástica, batalhadora, que eu amo muito.

 

Percalços: os ossos do ofício e futuro

Assim que eu me formei, tive muita dificuldade de entrar no mercado. Me formei no final de 2014. Em outubro foi minha colação de grau. Em 2015 eu não consegui nada. Nessa época que meu pai foi transferido para Bahia, não tinha mais ele para me ajudar financeiramente. Foi um desespero.

 

Eu tinha duas opções: ir com ele para Bahia ou ficar em Pernambuco. Pensando profissionalmente, eu não iria desenvolver em Paulo Afonso. Formado, sem emprego, meu pai indo embora era uma situação muito difícil. Mandei currículo para tudo: frentista, para trabalhar em supermercado. Enviei para todos os cantos e não consegui nada.

 

Acabei conseguindo emprego em uma faculdade para trabalhar com marketing, que não é minha área. Entrei nesse emprego em janeiro de 2015, mas ao mesmo tempo eu tava de olho no mercado, em oportunidades na área de jornalismo. Em junho ou julho de 2015, surgiu uma oportunidade em uma agência de comunicação. Passei no teste de seleção e estou lá até hoje. Estou feliz lá, é uma rotina puxada, cansativa, mas eu estou muito feliz e faço com muito prazer. A área que eu gosto e quero para o futuro, é o que sonho desde o inicio. Trabalhar para o esporte, em um jornal ou em uma assessoria de um clube daqui. Quem sabe no Sport ou no Santa Cruz. Meu grande sonho é o que eu tenho desde quando eu escolhi o curso, de trabalhar com futebol, com esporte mesmo.

 

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Sonhos. Fiquei com essa palavra na cabeça após me despedir de Pedro, no caminho de volta para casa. Da infância turbulenta no Rio de Janeiro e em São Paulo, escapando de balas perdidas e do caminho da violência urbana, até certa estabilidade e a busca por um futuro mais certo em Pernambuco, ele me relembrou a importância de manter erguida a cabeça e parte de minha própria história, também. Diria que é bom encontrar espelhos.

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 Expediente

Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo

Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Artes e Comunicação

Departamento de Comunicação Social - Jornalismo

Créditos

Textos e concepção: Mike Torres

Orientação: Profª Adriana Santana

Audiovisual: Mike Torres, David Costa e arquivos pessoais dos entrevistados

Design e produção do site: Mike Torres

Banca: Profª Adriana Santana, Profª Soraya Barreto e Celso Ishigami

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